Foto Alberto Dalmeida
Na imensa noite destelhada
Fico eu e meu gato olhando a lua
Cansados de amarrar cadarços
Andamos os dois, descalços.
Com ele, meu gato,
Aprendi o silêncio de um salto,
Vagar pela casa como um fantasma,
Andar pelas ruas sem ser notado.
Aprendi a ser pardo.
Aos poucos ele me ensina o silêncio
De um amor aos pedaços,
Não feito num quarto de hotel
Nem lento, tampouco apressado,
Apenas dois corpos calados.
Num quarto sem leito
Os corpos estão desistidos de si mesmos
De seus suores e fluídos
Sob a sombra dos medos
Impostos pelos mundos
Das obrigações, dos respeitos
Dos zelos das palavras
Dos olhos que acusam
Dos dedos em ristes
Que parecem dizer
Que esse tipo de amor
Não resiste, não pode.
Que esse tipo de amor
Não existe.
Na imensa noite destelhada
Fico eu e meu gato, bebendo a chuva,
Que nos mantêm acordados,
Ouvindo o rato cantar
Que o queijo estava no fim.
Paulo de Tharso
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